* Aromas que vendem - o marketing olfativo

Aromas que vendem - o marketing olfativo

Atuando diretamente sobre as emoções dos clientes, o Marketing Olfativo evoluiu e se transformou em importante ferramenta para o varejo
Não há quem resista ao do seu incenso preferido ou de um sal de banho fabricado com óleos essenciais. Ou, ainda, não tenha boas lembranças ao sentir o perfume da terra molhada e da grama recém-cortada. Hoje, graças à evolução da tecnologia e à busca constante de diferenciais para produtos e marcas, esses e milhares de outros aromas podem ser reproduzidos, transformando-se em um instrumento de Marketing na disputa pela fidelidade do consumidor.
“Uma boa composição olfativa é capaz de atrair a atenção do cliente, podendo aumentar o tráfego no estabelecimento, a velocidade de visitação e o tempo de permanência dentro da loja”, afirma Flávio Del Puente, da Alto Astral Presentes, empresa que fabrica as famosas essências. Segundo o especialista, com a comunicação olfativa é possível devolver ao consumidor cheiros que ele deixou se sentir, seja por causa da poluição ambiental ou da adoção de embalagens a vácuo.
Diferentemente do que supõe a maioria, a aplicação das novas tecnologias olfativas não se restringe à indústria alimentícia ou cosmética. As montadoras de automóveis há tempos encomendam “cheiros de carro novo” que atendam às expectativas de seus consumidores. Na Europa, o que agrada é basicamente a mistura de couro e tinta. Já no Brasil é a combinação de vinil, plástico e borracha. “Cada vez mais a indústria, o varejo e os prestadores de serviço estão buscando um aroma próprio para fixar a imagem”, avisa Flávio.
A Alto Astral Presentes, que atende clientes como Amor Aos Pedaços, Unilever, O Boticário, Natura e a Makro Atacadista, também invadiu o sambódromo carioca no carnaval de 2003 com 400 quilos de microcápsulas contendo óleo de casca de laranja, com o objetivo de promover o lançamento de um novo suco de fruta. sem contar a parafernália adotada no show “Quatro Estações”, da dupla Sandy & Júnior, que fez as fãs entrarem no clima do espetáculo com o perfume de rosas.
Conceito novo - foram os americanos os primeiros a fazer do aroma um aliado, usando-o para manter os apostadores mais tempo diante das mesas de jogos nos cassinos de Las Vegas, ainda na década de 70. Chineses e japoneses também investiram na aromatização dos mais diversos tipos de ambiente e até o metrô de Paris tem sua própria marca olfativa. No Brasil, esse é um conceito novo, iniciado em meados dos anos 90 por alguns supermercados dispostos a atrair a atenção dos consumidores para áreas de pouco tráfego ou para um novo produto em oferta. Depois vieram as feiras e exposições e, há não mais de três anos, uma demanda mais significativa por parte do varejo e de promotores de eventos artísticos e culturais.
“Com produtos e serviços cada vez mais iguais depois da globalização, o comércio percebeu que precisava buscar um diferencial que mexesse com a emoção e a criação de uma identidade olfativa cumpre esse papel”, explica Valéria Werneck, sócia da Nose Around, especializada em tendências de consumo.
A rede de docerias Amor Aos Pedaços foi uma das primeiras a usar a ferramenta, tendo adotado uma composição aromática criada especialmente para ela, com base de morango e chocolate. “Já tínhamos um apelo visual forte na vitrine e aguçar o olfato só ajudou a completar o conceito de produto montado na hora e sempre fresquinho”, explica Alexandre Viana, gerente de Marketing. O executivo não sabe mensurar o quanto a aromatização das 42 lojas da rede alavancou as vendas, mas garante que, todos os dias, recebia comentários de consumidores satisfeitos com a novidade.
Escolher um aroma que se identifique com o negócio e, principalmente, que desperte algum tipo de sensação agradável no público da casa é um exercício que pode levar meses e, às vezes, até anos. Para colher bons resultados, o caminho é fazer uma análise da faixa etária, origem e hábitos do consumidor, cruzando esses dados com o conceito da marca e do produto. “Em nenhum momento devemos esquecer que o repertório olfativo tem uma permanência na memória das pessoas maior do que o visual. A imagem fixa-se por alguns meses; o cheiro, por anos - e se apresentar algum envolvimento emocional, pelo resto da vida”, afirma Flávio, lembrando que há aromas característicos de cada década.
Dentro desse conceito, uma loja voltada a mulheres da terceira idade, por exemplo, não deve dispensar notas olfativas que lembrem pó-de-arroz ou lança-perfume. Ao mesmo tempo, é preciso refutar tudo o que possa ser associado a experiências negativas. “A mais remota ligação com qualquer uma dessas situações pode provocar repulsa no consumidor e deitar por terra todo um trabalho de imagem da marca”, alerta Flávio. outro ponto importante é lançar a dose certa da fragrância no ambiente. Nem mais, nem menos. Independentemente do método utilizado - difusão, aspersão, ventilação, volatilização, evaporação ou nebulização -, a regra é trabalhar no limite mínimo da percepção humana, a fim de não provocar mal-estar ou sensibilização. A fragrância não pode se impregnar na pele, na roupa ou no cabelo das pessoas.
Medida certa - essa foi a principal preocupação de Débora Feder, dona do Nature Marketing, loja paulistana que trabalha com um mix de produtos naturais para banho, artigos de beleza e decoração. “Já tínhamos uma mistura de cheiros muito forte, embora a área de 200 m2 ajudasse na dispersão”, comenta a empresária. Há dois anos, a casa ganhou sua marca olfativa - à base de pau-rosa e plantas da amazônia - completando o apelo visual, um dos principais responsáveis pelo fluxo de clientes. A resposta foi tão positiva que levou Débora a envasar o novo aroma e a comercializá-lo em embalagens de 100 ml. “Os 1,5 mil frascos foram consumidos em três meses”, comemora.
No hotel-spa Ponto De Luz, em Joanópolis (SP), o resultado também foi positivo. Há dois anos, a Alto Astral Presentes desenvolveu uma composição olfativa personalizada à base de capim-limão, gerânio e alecrim. O aroma é espalhado em diferentes concentrações nos quartos, no lobby, nas salas de meditação e até no restaurante. “Gastamos cerca de R$ 2 mil para desenvolver a composição exclusiva e uma média de R$ 100 mensais para a manutenção”, revela Jorene Ferro, diretora-administrativa. a fragrância rapidamente se tornou a marca registrada do Ponto De Luz, que hoje vende uma média de 60 sprays e 40 frascos de óleos essenciais por mês, garantindo, além do Marketing, uma fonte de renda.
Embora o interesse do consumidor pelos aromas seja evidente, ainda não há estudos que meçam exatamente a eficiência do Marketing Olfativo como trampolim para aquecer as vendas ou fidelizar a clientela. Uma pesquisa comportamental realizada na alemanha, porém, sinaliza que o uso de fragrâncias personalizadas aumenta em 15,9% o tempo de permanência do cliente no ponto- de-venda, em 14,8% a probabilidade de compra e em 6% as vendas reais.
Os especialistas enfatizam, contudo, que se trata de uma ferramenta extremamente versátil. Isso porque o aroma como instrumento de Marketing pode ser usado de várias maneiras e em momentos diferentes, dependendo da verba e das necessidades de cada empresa ou produto. Vale adotar uma fragrância personalizada em amostras-grátis, anúncios, embalagens, cartazes, folhetos promocionais e outdoors. Os perfumes especiais também podem chamar a atenção dos consumidores para áreas específicas do ponto-de-venda em datas comemorativas como a páscoa e o natal. Em ambientes fechados, como indústrias, hospitais, consultórios médicos, hotéis, aeroportos e spas, ou ainda em festas de casamento, shows e desfiles de moda, uma combinação olfativa bem afinada pode aumentar a capacidade de concentração, estimular o relaxamento, diminuir a tensão ou mesmo provocar uma certa euforia.
Mais em conta - segundo Ricardo Robertoni, gerente geral do Grupo El Morya, especializado em Marketing de Relacionamento, levará pelo menos mais cinco anos para o mercado assimilar a novidade e aplicá-la com mais propriedade, colhendo efetivamente bons resultados. “O que temos hoje são ensaios que às vezes duram apenas um mês e que são suspensos na primeira decisão de cortar custos”, ressalta. Em sua opinião, é essencial que a identidade olfativa seja adotada em todos os momentos de contato com o público-alvo, a fim de ser reconhecida como uma marca, sem similares.
A boa notícia é que, ao contrário de outros tempos, quando o preço era um fator proibitivo para pequenos empreendimentos, hoje já é possível encomendar uma fragrância personalizada a partir de R$2.000,00 e aromatizar um espaço de 200 m² gastando R$500,00. “Em 1995 essa mesma área não saía por menos de US$1.000,00”, afirma Flávio. Por tudo isso, o Marketing Olfativo ainda tem muito terreno a conquistar, mas com certeza será uma ferramenta muito importante, pois os aromas falam diretamente às emoções, e elas são decisivas na hora de comprar.


Matéria publicada por International Sites Brasil (www.internationalsites.com.br), em parceria com a Gráfica Muito Mais Barata (graficamuitomaisbarata.blogspot.com.br) e o Portal Consultas Contábeis (consultascontabeis.blogspot.com.br). Editores: Flávio Del Puente (Vendas e Marketing), Clara Cont (Contabilidade e Finanças) e Mauro Marques (Gestão e Empreendedorismo).